Monday, April 2, 2018

Se eu nunca mais te vir

Não faz mal se nunca mais te vir. Se calhar não causará tanto sobressalto, e não irei sentir o quão insignificante me tornei para ti, mais uma pessoa no mar de multidão em Lisboa, até que partas desta cidade e nunca mais recordarás o meu nome.
Talvez de lembres se fores a algum sítio que te relembre algum chão que teremos pisado juntos ou algum sítio que eu falei alguma vez que gostava tanto de ir! Mas eu sei que pouco tempo depois nada disso vai surgir nos teus pensamentos, uma paisagem será apenas uma paisagem com as memórias de novos amigos e novos amores. Não vais pensar em tirar uma foto para me mostrares depois.
Não sei se alguma vez cheguei a ser o teu primeiro pensamento do dia e o último do dia, só para que saibas, os primeiros dias não contam. Eu não sei se ficaria feliz por ti se conhecesses outra pessoa e que te deixasse de doer. Eu não sei se ficaria tudo bem se nunca mais visse o teu nome aparecer em lado algum. Eu também não sei se ficaria feliz se voltássemos a ficar juntos.
Não sei se te irei chamar na multidão ou fingir que não reparei, fingirias que não me tinhas visto?
Detesto pensar que te fiquei indiferente que já há tanta distância, mas não sou eu que tenho de correr desta vez, pois não? Se correres, por favor vem rápido. Se não souberes como correr não sejas tão gentil comigo, eu tenho o coração fraco.
Eu sei que o tempo apaga tudo, e se não apaga, enterra. Está tudo a ser difícil demais e não consigo preencher o vazio da tua presença com nada. Porque é que eu tenho de te amar tanto?

Friday, March 30, 2018

Mudaram-se os nossos papéis

Sei agora, que mais que nunca, os nossos papéis mudaram. Sempre pensei que precisávamos igualmente um do outro mas penso que errei, eu sempre precisei mais de ti do que tu de mim, a consciência disso tornou tudo insuportável. Eu dava, dava, dava, não pensava em mais nada senão dar o meu amor por ti, mostrar o meu carinho por ti, todas as facetas que ninguém chegará mais a conhecer. Mas sinto que tudo isso caiu para o vazio e sempre me fitavas de longe com os pensamentos voltados para ti e que de vez em quando me procuravas e isso bastava-me.
O pensamento que alguém que procurava, oh! Que conforto, aquece as minhas mãos frias e as minhas faces geladas à indiferença que parece que os meus dias são.
Haveria sempre uma distância entre nós? Esta de eu precisar e tu não veres isso, de quereres mudar mas as coisas voltassem à sua ordem sempre que a dor esvanecesse um bocado. E a luz ténue da insegurança de não ser boa o suficiente para ti cega-me num instante e arde-me nos olhos, embacia-me a visão e inunda-me uma vaga de amargura insuportável me sufoca entre as lágrimas.
Mas agora já não importo para ti, como deveria ser, a solidão já existia antes de partires ou de eu te afastar para deixar de sentir esta dor. Estarei a ser demasiado egoísta quando dei tudo de mim a alguém que não me via?
Cedendo.
Cedi pouco a pouco àquilo que não vias em mim, eu sei que isso me fez melhor, mas não chega, pois não? Não irias conseguir ceder da mesma forma ao que eu gostaria de ter, a tua atenção, a tua preocupação, a tua ajuda, não apenas quando estou a desmoronar em lágrimas, mas que isso não aconteça.
Sorri, consolei, andei de volta de ti, tento sempre pedir desculpas mesmo que sinta que se calhar eu também precisava que alguém procurasse o meu perdão. Eu poderia bem estar com uma pedra que parecia que aquecia com a minha temperatura e dedicação, e depois de ficar sem calor apenas a vestígios ficam. Não quero abanar o carinho de ti, para que reste alguma coisa para mim. Nos meus choros em desespero a paciência esfriou-se em hostilidade, Porque é que teres razão era tão importante?
Quando mudei as minhas palavras-chave utilizei o meu nome e a alcunha querida que fui investigando e sempre te chamei, o ano em que nos conhecemos. Aí deve ter sido das primeiras vezes que comecei a olhar para mim na nossa relação. Pensei, não, não vou escrever o teu nome primeiro, e escrevi o meu, o teu nome, a tua alcunha e o ano em que nos conhecemos. Eu estava a desaparecer. Eras tu, tu, tu, tu. E em para ti eras tu, tu, eu e tu, de vez em quando, e sentia sempre que no fundo sentiste que sacrificaste alguma coisa por mim e que questionavas se teria valido a pena.
Eu sou tão triste.
Eu sei que comparativamente com outras pessoas és das pessoas que melhor que trataste e que tiveste paciência e que estavas feliz. Tinhas-me a rodar em torno de ti, tens amigos para onde quer que vás, ias viajar e era a altura da tua vida, mas era apenas a tua.
'Se calhar é porque passamos demasiado tempo juntos,' dizias tu.
'Eu estava a sentir muita pressão por causa do curso', dizias tu.
Eu sei disso tudo, mas o que custava era ver que não querias estar comigo.
Eu só te tinha a ti e estava a tentar ser forte a imaginar o que seria de mim se desaparecesses. E quando me apercebi da minha insignificância, da lástima do que estava a ser a mendigar o teu amor vi que era tempo de deixar.
Prova-me que me amas. Mostra-me que me amas. Dá-me tudo de ti. As palavras já não me chegam. Quero alguma coisa verdadeira que consiga sentir e talvez me possa apoiar de novo a ti. Mas as coisas nunca voltarão a ser a mesma coisa pois não?
Eu, a rapariga inocente que corria para ti numa montanha com todo o esplendor do nosso amor e dizia-te para olhar para ali porque era tão bonito.
Estou a tentar um caminho sozinha em que não sigo a tua sombra de conforto, quero ser acompanhada da minha. Da minha própria sombra confiante, atrás de mim, em direção ao sol ou à tempestade, mas gostava de encontrar a força para seguir.

Thursday, March 15, 2018

Atmosfera

Ao longo de três meses mantive um diário escultórico com alguma disciplina, cresci muito dialogando com o material e comigo própria. Os dias que passam por mim e as emoções se anexam a mim não me largando, uma voz, um emaranhado que me prende os ombros. Por vezes é difícil respirar.
Larguei algumas coisas pelo caminho. A acumulação física fazia com que o tempo pesasse mais. Não como se nunca tivessem pesado. Mas a matéria pareceu colocar mais umas toneladas sobre o ar que me esmaga, culpando a minha fragilidade e esmagando a minha inocência e vontade de continuar sem olho para o tempo.
Este acumular não se desprende de mim, apenas da minha mente. Tenho medo de continuar e encher todo o meu espaço dele. Todas as relações serão assim. Preciso talvez de algum espaço com este projeto que se tornou uma tarefa que habita sempre como uma base inquieta. A inquietação por agora imobiliza. Seria um combustível bastante eficiente se tivesse o efeito contrário.
Penso que vou fechar.

Não gosto deste acumular físico, não gosto mais.
Talvez o que extraí foram demasiadas energias negativas, agora condensam-se ali, impiedosas.

Terei de ter alguma piedade de mim. Não sei se consigo olhar para as coisas que faço. Puxam-me com tanta intensidade que parecem que me destroem.

Tende piedade de mim.

Não quero âncoras. Quero partir.

Levem tudo.

Friday, December 27, 2013

Ao secar de luas e sóis

 Ah, joão, às vezes temos de engolir sapos e vomitar dragões!
Quantos anfíbios engolimos ao secar de luas e sóis.

Ingestão essa involuntária. Poderá causar desconforto pela mutação nervosa dentro do estômago. Claro, o bicho fica nervoso, não sabe onde está e por que céus está.

O indivíduo, merecedor, inocente ou não, saberá ou não.

Depois dos gritos/gemidos abafado pelos tubos quentes de carne. Depois dos trambolhões pelas paredes do estômago, o sapo recompõe-se e tenta perceber que Diabo dos Pântanos o pôs lá. Húmido, sim!, mas... quente... com cheiro peculiar.

E aguarda um momento até começar a protestar porque quer sair, não se sente seguro daquele sítio apagado, com luzes embaciadas da cor da carne. Bolhas incutidas nas paredes do estômago, acendendo, dilatando com as pulsações estranhas.

Um novo mundo... mundo. Mundo, mundo. Relance à direita, relance à esquerda, mundo, mundo, mundo...!

Depois sentem empatia, que seja do calor das paredes do estômago, olham para cima, sentem aquela inquietude do papo. Olham para baixo, vêm algas de dedos redondos. É por isto que estamos inquietos, o sapo é bastante sensível ao calor humano. Nós somos bastantes sensíveis à pele escorregadia aderente de sapo também.

Sapo sem desinfecção, é um bocado... Tendo em conta o seu ambiente pantanoso e os pântanos serem perigosos a nível de bactéria. O sapo pensará da mesma forma, COMO É QUE ESTA CRIATURA, criatura...

Eu não quero ficar aqui por muito mais tempo, os meus primos e irmãos vão ficar aflitos. Abre mais os olhos e fixa uma quarta parede, E OS MEUS FILHOS. Mas

o sapo tem a bocanha em sorriso, outros não. Recebe, recebe e nunca cede, outros não. O olhar diferente de sapo para sapo. Os que engoliram sapo são capazes de assimilar estes aspectos, aquele sorriso/riso parvo, desesperado, frustrado, forçado, apaziguador. Transparece no olhar, muitas cores. Mas outros não.

O sapo estica a pele do pescoço gordo... e vê o céu.

Senta-se.

Sonha.



Thursday, December 19, 2013

Se duas mãos nunca se separassem

Se duas mãos nunca se separassem, elas zangar-se-iam, não sentiriam o conforto do calor que passa de uma mão para a outra como um edredão suave de seda. Apenas sentiriam a humidade causado pelo suor e aquele sentimento viscoso. Não enquadrariam vales e luas, montanhas e riachos, ou apenas um simples sapo, rã, anfíbio esquisito.
Se eu não me separasse de ti, odiaria o teu calor, mas como há sempre Inverno, por vezes sinto que o calor é bem-vindo. O chocolate quente não aveludava a língua da mesma forma, nem sentiria um calor cor-de-laranja.
Bem sei que há estas coisas, e se as mãos não se separassem seria difícil dar aplausos, dar chapadas até. Claro que tudo se terá de separar, são parecidas, sim! sim... com certeza!... com certeza...mas precisam do seu espaço. Não as podemos deixar na mesma caixa e guardá-las num baú.


"Eu guardei as minhas mãos no baú" disse uma senhora ao telefone, está em linha na rádio lumiosa! Diga olá e cumprimente quem quer cumprimentar, quem mais ama! A apresentadora está animada. Mas isso é estranhíssimo, como é que faz as suas tarefas?

Não precisei mais de as fazer"afinal de contas" se não tiver mãos não preciso de fazer as contas, conto sempre pelos dedos, mas os meus dedos... já
Sim, senhora, todos temos momentos de fraqueza e...
Mas é por causa da fraqueza que as decidi guardar, assim não mais me queixo do incontrolado tremelique que abana tudo, a caneca, o tapete, até o gato. Guardei as mãos para não fazer mais mal a ninguém


Mas sabe, senhora, as mãos nem sempre são o mais fatal, sabe que uma coisa muito perigosa é a nossa boca, se os lábios nunca se separassem certamente não haveria tantos conflitos verbais, mas físicos haveriam de ter, porque encontramos em nós uma necessidade profunda de argumentar e ser paranóicos.
Do outro lado da linha, a velhinha que guardou as mãos já estava a produzir um som eléctrico.
AH! perdi outra senhora em linha.

Piiiiiii, piiiiiii, biiiii...

Sim, sim, sim. Estou? Está em linha na rádio lumiosa, posso saber o que é inseparável na sua vida, ou corpo?
Com. Efeito senhora. Budina... Disse num tom acastanhado e calmo.
E tenho o prazer de saber o seu nome?
O... meu nome? Ah,... o meu nome não é nada de especial, nada de especial. Não é tão especial como o seu, senhora Budina, sou apenas um português com mais de meio século de vida conhecido por zÉ, mas na verdade sou Miguel. Desde pequeno me confundiram com esse fulano, agora ficou, há coisas por mais que se insista não mudam.
Até os seus pais o tratam por zè?


Não, é zÉ.
Sim, zé.
Não, é zÉ.
Sim...
Sim... é porque as palavras são tantas, quando assim são ganham uma tal força que lavam a cabeça da pessoa. como se lavassem a terra de uma toca de lebres, sai a terra onde guardam as lembranças mais preciosas, e tudo!, o pelo branco, castanho, cenouras ou lá o que comem e...
Desta vez a linha quebrou-se do outro lado, e Budina foi buscar mais histórias e tentar que as suas mesmas histórias, palavras em demasia não assustem os ouvintes ou vice-versa.


Fotografia //  ilustração -- Caneta, canetas de feltro, chá margarida de neve de Kun Lun (昆仑雪菊)



昆仑雪菊, margarida de neve de Kun Lun usada para fazer infusões, e com ela fiz chá e fez-me manchas.

É uma espécie de margarida com alta tolerância ao frio e ao calor, a nevões e geadas, floresce nos sopés da cordilheira de Kun Lun a uma altitude de 3000 metros e superior, silenciosamente há mais de três milénios. A única flor que cresce naturalmente neve. Desenvolve-se num ambiente isento de poluição, a sua colheita é manual e não ultrapassa 5000 quilogramas. Beneficia a saúde a prevenir problemas cardiovasculares.

Fonte sobre a margarida: http://www.baike.com/wiki/昆仑雪菊